Com
muita luta e sofrimento os pais de Maria Nadir Lopes Martins trabalharam em São
Paulo. Com o salário do pai, que trabalhava em uma fábrica de sapatos, e o da
mãe, que trabalhava em uma casa de família, conseguiram juntar o dinheiro para
comprar o terreno em Araponga, Minas Gerais. Inclusive, foi com os pais que ela aprendeu a
amar a terra.
Nadir
se casou aos 26 anos e foi morar na zona rural de Araponga, na comunidade de
São Joaquim. Ela e o marido começaram a
vida juntos criando galinhas, porcos e cabritos. Além de também produzirem
arroz, milho, café e hortaliças.
Apesar
de ainda não conhecerem a palavra agroecologia, já tinham a consciência de que
agrotóxicos faziam mal, e que não deveriam utilizá-los. Foi com os pais que ela
obteve essa consciência agroecológica. Estes, sempre foram conscientes de que o
uso de agrotóxicos fazia mal à saúde. Apesar de usarem o fogo para o roçado
(técnica comum no meio rural), sempre trataram a terra com o devido respeito.
Além do conhecimento adquirido através dos pais, ela também aprendeu muito ao
participar dos grupos de reflexão da CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Lá
havia sempre explicações sobre o veneno e agricultura de um modo geral.
Em
1988 Nadir fez parte de um momento histórico em sua cidade: ajudou a fundar o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araponga. Sua motivação era clara: o
Parque Estadual da Serra do Brigadeiro estava sendo criado e alguns moradores
da região temiam serem expulsos de suas terras. Sem a mobilização do povo esta
história poderia ter tido outro fim.
Ativa
no meio sindical, já foi delegada do Órgão, o representando em espaços
públicos, congressos e viagens.
Ainda
nos anos 80 as mulheres começaram a se organizar no Centro Comunitário de Praia
D’anta, e Nadir estava junto nesta mais nova empreitada. A ideia era
conversarem sobre a vida que levavam, economia doméstica e outros temas.
Em
um encontro de mulheres da CEBs, conheceram Eugênio Ferrari, um dos fundadores
do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, o CTA. Os estudantes
ligados ao CTA traziam novos pensamentos, uma agricultura diferenciada,
alternativa ao modelo vigente da época.
O
CTA deu força aos agricultores da região para que continuassem com a produção
orgânica e 20 anos depois a propriedade de Nadir é um exemplo em agroecologia.
Prezando pela diversidade de espécies, é possível encontrar lavoura de banana,
milho, cana de açúcar, feijão, café, mandioca, soja, mamão, laranja, manga,
goiaba, pêssego, acerola, maracujá, ameixa, limão e pitanga. Também cultiva
horta, extremamente diversificada, com couve, tomatinho, alface, cenoura,
beterraba e alho. Além da diversificação de espécies produzidas na propriedade,
a família de Nadir também preserva uma nascente de água que foi cercada e
protegida.
Sobre
a vida agroecológica e seus benefícios, a trabalhadora rural disse: “O maior
benefício da agroecologia é a saúde, aqueles que usam veneno estão pedindo para
morrer”. Mas nem tudo são flores: Nadir encontra dificuldade em seus vizinhos
que, por não terem conhecimento dos riscos de agrotóxicos, os utilizam
indiscriminadamente, contaminando até as propriedades em seus arredores.
A
maior parte da renda da família de Nadir ainda é proveniente do café, porém a diversificação
de sua plantação garante renda o ano todo. A produção além do café deu à
família a independência das grandes lavouras. “A agroecologia representa vida,
nos vivemos dela, precisamos dela e gostamos de produzir assim ao natural!”
E
o amor pela terra passa de geração em geração: os filhos de Nadir estudam na
Escola Família Agrícola (EFA) e têm aplicado os conhecimentos adquiridos na
propriedade. "Muitas técnicas nós já fazíamos antes de saber que elas existiam".
Além
de cuidar de sua propriedade, Nadir ainda faz artesanatos como crochê, tricô,
fuxico. Seus produtos são comercializados, trazendo uma renda adicional ao
orçamento familiar.
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