Lúcia Helena mora na
zona rural de Divino, na comunidade Teixeiras, ela é casada e tem um filho
já criado. Lúcia começou a participar do movimento de agroecologia quando ainda
era solteira, por influência da irmã, que trabalhou por algum tempo no
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Carangola. Ela se aproximou do sindicato
e consequentemente conheceu o termo “agroecologia” e também organizações que
trabalham com agricultura familiar. Depois dos conhecimentos obtidos Lúcia
chegou a conclusão de que já praticava agroecologia mesmo antes de conhecer os
significados da palavra.
Uma dessas organizações
que Lúcia conheceu foi o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata,
organização que trabalha diretamente com agricultura familiar e agroecologia na
Zona da Mata mineira. No CTA-ZM ela se envolveu no Movimento de Mulheres da
Zona da Mata e Leste de Minas (MMZML) que tem encontros regulares, onde
discutem a situação da mulher no meio rural, debatem o feminismo, políticas
públicas, se articulam para atividades em conjunto, participam de capacitações
e cursos de formação. Outra atividade em que Lúcia passou a frequentar foi o
Programa de Formação do projeto Mulheres e Agroecologia em Rede. O projeto
desenvolvido pelo CTA-ZM, tem como eixo central o empoderamento técnico,
político e econômico das mulheres rurais, de tal forma que as mesmas possam ter
uma maior incidência nos processos de gestão e monitoramento das políticas
públicas voltadas para o desenvolvimento rural. As ações propostas visam
contribuir para a autonomia política e econômica das mulheres rurais a partir
da qualificação dos seus processos organizativos.
Lúcia julga que, mesmo
tendo a consciência de que já praticava agroecologia antes de conhecer o seu
significado, cometeu muitos erros no passado. Antigamente ela utilizava o fogo
na roçada e chegou inclusive a utilizar agrotóxicos, por influência do pai, que
não sabia dos malefícios que estes insumos podem trazer a curto, médio e longo
prazo. Porém, com o passar dos anos, e com a participação política e nas
organizações parceiras dos sindicatos rurais, ela foi aprimorando os seus
conhecimentos agroecológicos e colocando em prática em sua propriedade. “Eu brigava demais com o Hélio (marido),
fiquei duas semanas sem conversar com ele, porque ele queria jogar veneno nas
lavouras! Aos poucos ele também mudou o pensamento.” Lúcia ainda destaca a
habilidade dos comerciantes de venenos para efetuar o negócio, segundo ela é
preciso estar atento para não cair na lábia desses vendedores, que tentarão
convencer das “milagrosas vantagens do uso dos agrotóxicos”.
Ainda antes de se casar
Lúcia também participou de um curso de homeopatia, com o qual se identificou.
Após o seu casamento, o marido dela, o Sr.Hélio também se interessou e buscou
informações e cursos sobre homeopatia. Logo começaram a trabalhar juntos utilizando
os conhecimentos da homeopatia, do biodigital e da medicina alternativa.
Durante muitos anos eles trabalharam ajudando muitas pessoas da comunidade e às
vezes até mesmo pessoas da cidade, que vinham em busca de um tratamento mais
natural para as suas enfermidades. Porém, com o passar do tempo, Lúcia e Hélio
começaram a sentir o peso dessa escolha, e resolveram parar com os
atendimentos, pois estavam adoecendo de tanto trabalhar tentando ajudar as
pessoas. “Todos os dias eu recebia muita
gente em casa, com muitos problemas, doença...comecei a achar o ambiente
pesado, e nós ficamos doentes, por isso paramos. Mas não de todo, ainda
ajudamos da maneira que podemos.” Lúcia destaca que nessa época as pessoas
ofereciam dinheiro, galinhas, leitões e outras formas de pagamento, mas eles
nunca aceitaram, pois não era esse o interesse. O objetivo maior sempre foi
ajudar as pessoas de uma maneira natural sem a dependência dos remédios alopáticos.
Atualmente Lúcia
desenvolve a agroecologia integralmente em sua propriedade. A lavoura de café é
consorciada com árvores nativas, milho e árvores frutíferas. Ela também planta
diferentes tipos de feijões, alguns para alimentação e comercialização e outros
para a produção de adubo orgânico como a mucuna preta e o feijão rosa.
Lúcia também cuida da
horta da mãe, juntamente com os irmãos, a horta é coletiva, de maneira que
todos trabalham e todos usufruem da produção. Na propriedade de Lúcia também
tem tanque de peixes, criação de vacas para produção de leite e galinheiro.
“Gosto
da agroecologia por causa da saúde, autoestima, convivo com todo mundo no
município, independente de partido, religião ou raça. Uma das melhores coisas
que me aconteceu foi a medicina alternativa, para cuidar das pessoas, da gente
e da terra. Hoje em dia só vou ao médico se eu machucar ou para conseguir atestado e garantir os meus
direitos, pois remédios eu já sei quando é bom e quando não é!”
Hoje, a principal renda
de Lúcia é a fabricação de doces caseiros, que ela entrega para a alimentação
escolar, vende na comunidade, nas feiras da cidade e de porta em porta. Ela
também faz artesanatos, em especial bonecas de palha, que também comercializa e
tem gerado bom retorno financeiro. A diversidade da propriedade tem
proporcionado renda a família durante todo o ano, pois já não dependem mais
apenas de uma ou duas lavouras, como o café e o milho. “Esse ano o preço do café caiu demais, e a nossa lavoura também não
produziu bem, que nós até deixamos pra lá, nem colhemos. Temos outras
alternativas de venda!” A renda do marido de Lúcia, com o trabalho atual na
prefeitura de Divino, é o dinheiro extra da família usado para investir por
exemplo, na compra de um freezer ou de outros equipamentos que dão suporte à
produção de doces. Mas o que sustenta de fato a família é o trabalho agroecológico.
Lúcia considera que o
principal ganho com a agroecologia é na qualidade de vida, que ela resume da
seguinte maneira: “Nós trabalhamos para
viver bem, comer bem, e não para ter coisas”. Ela não tem dificuldades em
ser agroecológica, porém considera que agroecologia é pouco difundida, falta
reconhecimento e valorização de toda a sociedade. Para ela é preciso agregar
valor a esse tipo de trabalho: “Falta
mais pessoas saberem o que é esse jeito gostoso de viver. É o bem viver para o bem
querer”!
A agroecologia
transformou a vida de Lúcia e de sua família, que tem vivido com muito mais
qualidade de vida!
Nenhum comentário:
Postar um comentário