Lena Lúcia de Souza Macedo - Araponga, Minas Gerais

Lena Lúcia nasceu em Pedra Redonda e morou na zona rural até os 16 anos de idade. Os pais dela sempre foram agricultores, vivendo de tudo o que a terra oferecia. Eles sempre trabalharam de maneira agroecológica, mesmo sem conhecer a expressão.
Aos 16 anos Lena saiu da roça para trabalhar em casa de família. O tempo passou e Lena se casou. O marido dela sempre gostou de trabalhar com agricultura e tinha um sonho de conquistar a própria terra e produzir nela. O casal se planejou e juntou dinheiro para poderem comprar o tão sonhado pedaço de chão.
Na época, venderam tudo o que tinham, mas conseguiram finalmente adquirir a propriedade na comunidade São Joaquim em Araponga, onde já residem há 12 anos, produzindo alimentos para o consumo da família e para comercialização, tudo sem uso de agrotóxicos, que Lena sempre foi contra.
O primeiro contato de Lena com a agroecologia foi no Movimento de Mulheres, a aproximadamente 10 anos, época em que também se filiou ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araponga.
Na propriedade, atualmente Lena trabalha com horta, cultiva um pomar de frutíferas, tem lavouras de milho, café, feijão, criação de peixes, galinhas, patos e coelhos. Ela conserva uma área de mata, que faz questão de preservar, de onde também retira lenha para o consumo da família. “Se eu tivesse que mexer com uma coisa só eu nem queria. O bom é tudo junto.”
Lena considera a agroecologia imprescindível, pelo fato de sabermos de onde vem e como os alimentos são produzidos, já que nós mesmos é que iremos consumir esses alimentos. “Sem o agrotóxico é muito melhor, agroecologia é vida.”
Os vizinhos de Lena são um grande problema, pois utilizam o agrotóxico, o que acaba contaminando a propriedade de Lena. A grande dificuldade para ela são as formigas, que são insistentes, por isso ela assume ainda utilizar os formicidas de vez em quando.  Outra dificuldade são as lagartas da couve de difícil controle.
Em sua jornada agroecológica, Lena sofreu influência de muitas pessoas e organizações, e destaca o sindicato, o movimento de mulheres e o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata.
Lena diz não pretender ganhar muito dinheiro com a agroecologia, para ela o mais importante é a qualidade de vida e a alimentação da família. “Se houver sobra, ai sim se pode vender.”
Atualmente Lena entrega seus produtos na cidade, onde já tem alguns fregueses garantidos, além de entregar para uma pensão que serve almoço todos os dias no município.
Ela também trabalha com artesanatos como, tigelas de palha de café, patchworks de pano, porta retratos, porta lápis, abajures dentre outros. Ela considera que, vivendo da agroecologia, tem ganhado muito mais do que dinheiro,  tem ganhado qualidade de vida.
A família não tem gastos com remédios nem idas aos postos de saúde. Quando aparece alguma enfermidade se cuidam com as ervas e plantas medicinais que produzem. Também utiliza a medicina alternativa, muito presente no meio rural de Araponga. O marido dela tinha problemas seríssimos na coluna, ele foi ao médico várias vezes, e tomou vários remédios alopáticos que não resolveram as dores. Após um tempo procuraram uma mulher da região, que trabalhava com medicina alternativa, ela receitou uma tintura, chás e compressas com argila, o marido melhorou e não voltou mais a ter as insuportáveis dores nas costas.
Os filhos de Lena estudam na Escola Família Agrícola (EFA) e sempre aplicam os conhecimentos em casa, utilizando técnicas naturais e propiciando a diversificação da propriedade.
Os filhos ajudam no que podem, mas o serviço pesado e rotineiro acaba sobrando para Lena. Ela só utiliza sementes crioulas, principalmente de milho e feijão.
Na colheita do café toda a família se mobiliza, e os lucros chegam a 20 mil anual, porém o café não produz da mesma maneira todos os anos. Um ano é bom o outro pior. O gasto com insumos são mínimos, pois o café é agroecológico, livre de pesticidas e agrotóxicos e a mão-de-obra é familiar.
Além do café, a diversidade da produção tem garantido uma renda extra mensal de aproximadamente 500,00 reais por mês, alternando entre a comercialização de frutas, legumes, hortaliças e artesanato.
“A agroecologia é tudo, sem ela fica difícil! Eu vou para a horta e esqueço-me do mundo lá fora, é muito gostoso ver as plantas crescerem.”

“Não faz cova para plantar, cova é para enterrar, se faz berço, para bebê crescer!”

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