Durante anos a família
de Renata Vilete praticou a agricultura de maneira convencional. O pai dela, o
Sr. José Vilete, foi meeiro durante muitos anos o que o obrigava a seguir as
orientações dos donos da terra, dessa forma a família acabava praticando a
agricultura convencional com o uso intenso de agrotóxicos, capina com fogo e
total dependência dos insumos agrícolas.
O pai de Renata sofreu
um derrame em 2002, e a família atribui o acidente vascular cerebral ao uso de
agrotóxicos, o que fez com que, por influência de Renata, mudassem totalmente
o estilo de vida, a começar pelo tipo de agricultura praticada.
A família resolveu
voltar para o terreno próprio, localizado em Divino, Minas Gerais. A
propriedade fica quase no topo de uma montanha, com resquícios de mata
atlântica, muitas pedras e algumas nascentes, onde já praticam a agroecologia
há treze anos.
Um dos grandes
problemas da propriedade da família de Renata, por estarem localizados em uma
região de grandes formações rochosas, é o terreno acidentado, cheio de pedras, o
que poderia impossibilitar o cultivo ou dificultar o manejo de espécies. Porém,
Renata conseguiu provar o contrário, e desenvolveu em meio às pedras um Sistema Agroflorestal (Saf’s), com espécies frutíferas e árvores nativas.
Renata trabalha com a agroecologia
de muitas maneiras. Ela tem horta com grande diversidade de plantas, de onde
retira para consumo próprio e para comercialização. A horta é cuidada apenas
pelas mulheres da família.
A família vende ovos
todas as semanas, já que criam galinhas poedeiras, além de frango caipira,
vacas para leite e porcos para carne. Também produz milho a partir de sementes
crioulas, cultivadas em consórcio com outras plantas, como café, mandioca,
banana e mamão. Na propriedade também há uma grande variedade de tubérculos e cana
de açúcar.
O pomar da propriedade
dos Vilete é um destaque a parte, lá é possível encontrar: cajá, goiaba,
carambola, manga, jenipapo, laranja, limão, seriguela, tangerina, lichia, maçã,
caju, jabuticaba, acerola, banana, angá, umbu,
mexerica, uva, mamão, coco, cidra, figo, abacate e abacaxi.
Do ponto de vista dos
benefícios que a incorporação da agroecologia pode trazer, Renata destaca que a
saúde da família tem melhorado a cada ano: “Minha
filha já vai fazer 10 anos e nunca tomou nenhum antibiótico. Cuido de tudo o
que aparece com os remédios naturais próprios daqui da roça mesmo”.
Outra faceta da
agroecologia é o artesanato, no qual Renata também participa, fabricando bonecas
de pano e bonecas de palha de milho. A mãe dela também trabalha com artesanato,
fabricando a base de argila, potes, vasos e gamelas, além da utilização de
terra para produção de tinturas utilizadas para pintar casas e fazer outros
artesanatos.
A variedade de flores é
outro destaque que Renata considera importante para a avaliação da propriedade,
que é acima de tudo um grande indicativo de que a natureza está trabalhando
harmonicamente.
Desde o início dos trabalhos
na propriedade, de maneira agroecológica, Renata tem percebido uma grande
melhora na terra, com menos erosão e maior produção de todas as espécies.
Com o passar do tempo
Renata se filiou ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Divino e aderiu aos
movimentos sociais, e as campanhas; como a campanha contra os agrotóxicos. Envolveu-se com a Comissão de Mulheres do
município e com a Comissão de Mulheres regional. A partir disso começou a se
envolver com políticas públicas, habitação rural, documentação das mulheres
rurais, feminismo e lutas contra a violência a mulheres. O seu envolvimento
político já dura oito anos.
Hoje Renata é coordenadora
da Comissão de Mulheres e está à frente da casa do artesão, que será um espaço
de formação bem como comercialização de produtos.
Com o envolvimento
político, Renata conheceu o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata,
organização que trabalha diretamente com agricultura familiar e agroecologia na
Zona da Mata mineira que trabalha em parceria aos Sindicatos dos Trabalhadores
Rurais. No CTA-ZM ela se envolveu no Movimento de Mulheres da Zona da Mata e
Leste de Minas (MMZML) que tem encontros regulares, onde discutem a situação da
mulher no meio rural, debatem o feminismo, políticas públicas, se articulam
para atividades em conjunto, participam de capacitações e cursos de formação.
Outra atividade em que Renata passou a frequentar foi o Programa de Formação do
projeto Mulheres e Agroecologia em Rede. O projeto desenvolvido pelo CTA-ZM,
tem como eixo central o empoderamento técnico, político e econômico das
mulheres rurais, de tal forma que as mesmas possam ter uma maior incidência nos
processos de gestão e monitoramento das políticas públicas voltadas para
o desenvolvimento rural. As ações propostas visam contribuir para a autonomia
política e econômica das mulheres rurais a partir da qualificação dos seus
processos organizativos.
“No
projeto estou tendo a oportunidade de participar de tudo, desde os cursos de capacitação, debates, programa de formação, viagens para os encontros e ver na prática o que está sendo feito para melhorar
as condições de vida da mulher rural”.
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